3.8 Ouvir Webern e Morrer
Revista SomTrês, n.14, fevereiro de 1980
Em Música de Invenção, pgs 95 - 100
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Artigo sobre o, então atual, lançamento de
‘Complete Works of Anton Webern’
(maio de 1979) – regência de Pierre Boulez.
Augusto compara esse álbum a um mais antigo,
de iniativa de Robert Craft (1957), ele sustenta que Boulez supera Craft nas peças orquestrais, mas não nas peças vocais .
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* Proezas de Boulez: releitura da 5ª sinfonia de Beethoven, da Sagração da Primavera de Stravinski e da obra orquestral de Debussy.
Ninguém que esteja familiarizado com a música contemporânea desconhece a relevância que a obra do vienense
A n t o n W e b e r n
(1803-1945) assumiu na perspectiva da música nova, a partir da segunda metade do século. Tido, até então, apenas como um discípulo de Schoenberg e colocado em plano inferior ao próprio Alban Berg, passou a ser visto pelos mais lúcidos compositores europeus, liderados por Boulez e Stockhausen, como o ponto de partida das novas indagações musicais. E, ao menos nesse terreno, europeus e americanos estavam de acordo. Pois mesmo John Cage não deixou de armar o seu trampolim criativo, a partir de Webern, associando-o, é verdade, a um nome um tanto herético para os pós-serialistas do outro lado do Atlântico: Erik Satie.
Em “Defesa de Satie”, conferência de 1948, Cage sustenta que Webern e Satie, tendo em comum a brevidade e a simplicidade, seriam os responsáveis pela “única ideia nova ocorrida em materia de estrutura musical desde Beethoven”: com Beethoven as partes de uma composição eram definidas por meio da harmonia; com Satie e Webern, passaram a ser definidas por meio de extensões de tempo.
Foi Webern também que provocou a inesperada conversão de
Stravinski
à música serial em 1952. Stravinski tratou-o como um santo, chegando a declarar com humildade:
“Webern é o ‘justo da música’ e não vacilo em amparar-me na proteção benéfica de sua arte ainda não canonizada”.
Em Webern
encontramos um uso
sem precedentes
da concisão formal,
da dialética entre
. som .
e ,
Silêncio
(este, pela primeira vez, tornado ‘audível’, empregado não como pausa mas como elemento estrutural, em pé de igualdade com os próprios sons)
e da melodia-de-timbres,
que põe ênfase nos timbres dos instrumentos,
fragmentos, fragmentando a
m e
l o
d i a
num caleidoscópio multicolorido de sons e de brancossonoros.
Sua obra, segundo Krenek, constitui
‘o rompimento mais completo com a tradição em séculos, talvez em toda a história da música ocidental’.
As 31 obras que Webern produziu, em 37 anos de vida criativa, cabem, pois, em quatro discos e podem ser ouvidas em menos de três horas. A mais longa, a Cantata op.31, dura entre dez e 14 minutos. As mais curtas, de dois a três minutos, com movimentos ou peças de até 15 segundos. ‘NON MULTA SED MULTUM’, não muito (quantidade) mas muito (qualidade), era o lema de Webern. (...)”
compreenda-se :
desconhecer a obra de Webern
é mais ou menos como nunca ter ouvido
J o ã o G i l b e r t o
o nosso universo muda,
depois de ouvi-lo.
um prefácio a john cage : augusto de campos
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